Ó Cesário Verde, ó Mestre !
Passa agora o 150º aniversário do nascimento de Cesário Verde.
Viveu apenas 31 anos.
Ninguém reparou nele em vida.
Cruzou-se com Guerra Junqueiro, Gomes Leal, João de Deus. Não repararam nos seus poemas. E porquê dar atenção a um jovem comerciante da Rua dos Fanqueiros, opinativo e conflituoso, que lhes entrava de rompante nas tertúlias ?
Até Columbano se esqueceu dele no retrato do Grupo do Leão. E, já então, Cesário Verde antecipara em Portugal o movimento impressionista, que, na época, espantava Paris.
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Mesmo à mais esclarecida intelectualidade lisboeta, este poema ("De Tarde") não fez lembrar nada.
Depois da sua morte, em 1886, um amigo juntou-lhe os poemas e publicou-os em livro.
Mais tarde, Fernando Pessoa proclamou-o seu Mestre (é de Pessoa, digo, de Alberto Caeiro, a frase que faz o título deste post). E explica-o no Livro do Desassossego :
“Vivo numa época anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.”
Da realidade objectiva, do quotidiano, do trivial, Cesário Verde fez poesia.
Foi o poeta da paisagem humana e física de Lisboa - o poeta da Cidade.
Álvaro de Campos seguiu-o, com orgulho.
Alberto Caeiro tinha-o sempre presente : Leio até me arderem os olhos / o livro de Cesário Verde. // Que pena tenho dele ! Ele era um camponês / Que andava preso em liberdade pela cidade. / Mas o modo como olhava para as casas, / (...) / é o de quem olha para as árvores / (...) / e anda a reparar nas flores que há pelos campos...
Cesário era o homem do campo na cidade, o "poeta da Natureza antiliterária", saudável, activa, laboriosa, que apela aos sentidos :
Pode ler aqui O Sentimento de um Ocidental.
Viveu apenas 31 anos.
Ninguém reparou nele em vida.
Cruzou-se com Guerra Junqueiro, Gomes Leal, João de Deus. Não repararam nos seus poemas. E porquê dar atenção a um jovem comerciante da Rua dos Fanqueiros, opinativo e conflituoso, que lhes entrava de rompante nas tertúlias ?
Até Columbano se esqueceu dele no retrato do Grupo do Leão. E, já então, Cesário Verde antecipara em Portugal o movimento impressionista, que, na época, espantava Paris.
Naquele “pic-nic” de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Mesmo à mais esclarecida intelectualidade lisboeta, este poema ("De Tarde") não fez lembrar nada.
Depois da sua morte, em 1886, um amigo juntou-lhe os poemas e publicou-os em livro.
Mais tarde, Fernando Pessoa proclamou-o seu Mestre (é de Pessoa, digo, de Alberto Caeiro, a frase que faz o título deste post). E explica-o no Livro do Desassossego :
“Vivo numa época anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.”
Da realidade objectiva, do quotidiano, do trivial, Cesário Verde fez poesia.
Foi o poeta da paisagem humana e física de Lisboa - o poeta da Cidade.
Álvaro de Campos seguiu-o, com orgulho.
Alberto Caeiro tinha-o sempre presente : Leio até me arderem os olhos / o livro de Cesário Verde. // Que pena tenho dele ! Ele era um camponês / Que andava preso em liberdade pela cidade. / Mas o modo como olhava para as casas, / (...) / é o de quem olha para as árvores / (...) / e anda a reparar nas flores que há pelos campos...
Cesário era o homem do campo na cidade, o "poeta da Natureza antiliterária", saudável, activa, laboriosa, que apela aos sentidos :
Eu tudo encontro alegremente exacto,
Lavo, refresco, limpo os meus sentidos
E tangem-me, excitados, sacudidos,
O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto.
Pode ler aqui O Sentimento de um Ocidental.
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