segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Portugal, um país de cidades.

Estamos habituados a assistir a lutas desenfreadas pela elevação legal das Aldeias a Vilas, das Vilas a Cidades, mas tudo não passa de vaidades bacocas, estéreis e profundamente lamentáveis.
Tomemos o exemplo de Póvoa de Santa Iria, Concelho e Comarca de Vila Franca de Xira.
Há uns anos a esta parte, era uma aldeia, e, nada possuía que a diferênciasse das outras aldeias, vilas ou cidades do país.
Entretanto, mercê do boom da construção civil, foi elevada a Vila, e, todavia, não teve mais do que já tinha, ou seja, não ficou com um verdadeiro centro de saúde, e, nada mais aquela aldeia inicial ganhou, em benefício do cidadão que lá vive.
Não ficou com qualquer repartição pública, como notário, conservatória, finanças e mais o que fosse.
Tem, apenas o que tinha inicialmente, uma junta de freguesia!
Mais tarde, com grande orgulho dos autarcas e de uns quantos maduros, foi elevada a cidade, já lá vão mais de dez anos...
E, hoje a Póvoa tem exactamente as mesmas condições que tinha enquanto aldeia, à excepção de um pequeno gabinete de loja do cidadão...que trata de pouco mais do que 4 ou 5 assuntos (daqueles que todas as pessoas já têm em suas casas...como o acesso à DGRN)...!!!
Continua a Póvoa de Santa Iria, sem um verdadeiro centro de saúde; sem qualquer repartição pública para tratar dos assuntos aos seus mais de trinta mil habitantes; sem um parque público digno desse nome, sem um parque infantil digno desse nome, no seu centro.
E escolas...só mesmo até ao nono ano de escolaridade. Se os jovens ainda assim tiverem a coragem de prosseguirem os seus estudos, terão de se deslocar para outra...cidade mais próxima, pois esta nada tem para lhes oferecer.
Até hoje o cidadão comum não sentiu qualquer vantagem da elevação da aldeia a vila, e muito menos, a cidade
Mas na Estrada, à entrada da localidade, em ambos os lados exibe-se pomposamente os dizeres "Bem vindo à cidade da Póvoa".
E, esta cidade continua sem notários, sem conservatórias, sem repartição de finanças, sem tesourarias...enfim, sem qualquer serviço público junto do qual o cidadão se possa dirigir para tratar do que quer que seja.
Mas insiste-se...é uma “cidade”...feita à justa medida do vazio do decreto que a criou!
E, como esta, muitas outras mais existem, pelo país fora, que, de cidades, apenas lhes foi oferecida a designação, e pouco mais.
Não há pachorra para aturar estes políticos, que, em vez de fazerem algo pelo povo, esgatenham-se, por vaidade, para que o nome deles fique ligado à elevação das terras a vilas ou cidades...!!!
Continua-se pois a dar importância à forma e a descurar o conteúdo.
Assim não vamos lá.

José Pedro Gil








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