sábado, abril 02, 2005

Don Giovanni Ou O Dissoluto Absolvido


Foi agora publicado pela Caminho o texto de Saramago, destinado a servir de base dramática ao libreto da nova ópera de Azio Corghi, Don Giovanni o Il Dissoluto Assolto.
O autor confessa que a coragem (ou o atrevimento) para revisitar o mito de Don Giovanni, acalentado por gente tão ilustre como Tirso de Molina, Molière, Hoffmann, Dumas e ... Lorenzo Da Ponte, e a audácia para o recriar num quadro de revisão da responsabilidade moral, foi buscá-la à insistência de Corghi.
O texto de Saramago nasceu da troca de e-mails, que manteve durante onze meses com o compositor italiano. A discussão entre eles chegou a ser tão intensa,que, em algumas fases, os levou a trocar seis mails por dia.
Nasceram, assim, em simultâneo, o texto teatral de Saramago e o libretístico de Corghi, para além de muitas páginas da partitura.
Os carrascos de Don Giovanni ainda são os da versão de Da Ponte - Donna Anna, Donna Elvira, Don Octavio e o Comendador.
Mas, a partir daí, tudo é diferente.
A cobardia de Don Octavio é castigada, com a sua morte; a estátua do Comendador, que fora símbolo da dignidade e da justiça, é agora um monumento patético à hiprocrisia, que, vencido, se desfaz em estilhaços; Donna Anna e Donna Elvira fazem um duo de amazonas vingativas, que acaba derrotado ... pela camponesa Zerlina.
E Giovanni (já não Don Giovanni) é, finalmente, absolvido pela entrega de Zerlina - não a estouvada camponesa, mas uma outra, quase Blimunda -, agora ela a sedutora.
"Graças a Azio Corghi, a urdidura de palavras que criei tornou-se música, tornou-se canto", diz-nos Saramago. Imagino com que emoção.
Fico, porém, à espera para ouvir (e ver) a nova ópera de Corghi.
Confesso que espero desconfiado.
E como não ?
O Don Giovanni de Mozart e Da Ponte é , de entre todas, a ópera mais complexa, mais sofistificada - e a mais bela !
No pior dos casos, não se perderá tudo : a Ária do Catálogo, do Leporello, passou, na íntegra, para o prólogo deste Il Dissoluto Assolto.








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